Loucuras de quem pirava por tênis e roupas de marca

Loucuras de quem pirava por tênis e roupas de marca



Ângela Kempfer e Anny Malagolini
Aos 16 anos, o primeiro salário da minha vida foi gasto em um par de tênis. Era década de 90 e depois de um dia de trabalho (o 5º dia útil por sinal) peguei minha Mobilete e antes das 18h consegui chegar à loja para finalmente comprar meu Redley. Um sonho realizado!
Nem 30 anos mudam determinados comportamentos. Apesar de quase ninguém andar mais de Mobilete hoje em dia, sempre há um sonho de consumo na moda.
Em uma conversa com amigos, é bom lembrar o passou até a gente chegar à vida adulta, à fase de responsabilidades e de valores que vão bem além de um par de tênis ou um telefone celular. 
Para o administrador Gabriel Lescano, hoje com 30 anos, na adolescência a vida mudaria desde que conseguisse uma jaqueta jeans da marca “Hard Rock Café”. Todo mundo queria. Quando ele finalmente conseguiu, já não estava tão na moda assim e, o pior, descobriu que a peça tão esperada era falsificação.
“Fui até a loja para reclamar da jaqueta e a vendedora não quis fazer a troca. Então minha mãe ficou sabendo da história e conseguiu trocar a falsa pela original. Mas em menos de uma semana começou a fazer calor na cidade. Eu ainda insisti em usá-la, alegando que fazia frio pela manhã”.
Naquele tempo, enquanto pobre comprava "Chinezinho" em Ponta Porã, para ser bacana alguns achavam que tinha de ter Redley.
O analista de Marketing Digital Djavan Loureiro lembra de detalhes de produtos que no Ensino Fundamental dividiam os colegas entre “burgueses” e “quebrados”. Tinha a mochila da Company, a carteira O.P. “O Redley era coisa de burguês. Era simples, mas caro”. Na década de 90, mais velho, passou a cobiçar o boné do "Chicago Bulls" – “A aba tinha que ter 8 linhas de costura para ser original. Eu pedia emprestado para o meu amigo que tinha, mas era coisa rápida.
Para a analista de Beleza e Moda do Senac, Viviane Portugal,  a primeira peça que surge na lembrança também é o  tênis Redley, que hoje nas lojas custa R$ 190,00 o modelo clássico e quase R$ 400,00 o último lançamento. “Naquela época havia um apelo na moda, mas incomparável ao de hoje. As informações vinham muito através das novelas, a moda aparecia no colégio e todas queriam igual”.
O Centro de Campo Grande fervia quando o salário ou a mesada da garotada era liberada. O bate-papo com  o dono da DuGezzu, loja famosa nas décadas de 80 e 90, faz a memória trabalhar. Na relação de peças desejadas pelo juventude das antigas, ele lembra da calça Transport. É como em um piscar de olhos voltar à frente do espelho no dia em que comprei a primeira e única peça da grife, no jeans claro, com a costura de pontos enormes, uma diferença da marca.
“Tinha guri que trabalhava de pedreiro e no dia do pagamento gastava tudo em uma calça. Toda a semana tinha de ir para São Paulo buscar mais”, lembra Gezzu Barbosa da Silva.
Há 32 anos na Rui Barbosa, a loja já vendeu muito modismo, mas nenhum se compara aos do final dos anos 80. “Tinha também o cinto da Zoomp, um terror para a Polícia, mas ótimo para mim. Um dia, um capitão da PM contou que tinha uma sala no batalhão cheia de cintos apreendidos. É que a fivela era um raio, de metal, e a gurizada quebrava a cabeça um dos outros com uma cintada. A Polícia apreendia e na outra semana o guri vinha comprar de novo”, conta.
Como moda é algo que vai e volta, o empresário diz que muita coisa vendida hoje é de outros tempos, como os óculos. “Tem muitas marcas que já não existem, como a Transport, mas não me espantaria se o cinto da Zoomp e o sapato de solado tratorado voltassem”, brinca.
O consultor de moda Luiz Gugliatto, de 49 anos, viveu o tempo da moçada maluca por roupas ou acessórios de marcas Zoomp e Vide Bula e de detalhes que voltaram a ser atuais.  “Nos anos 80, era uma febre o color block, todos queriam ter uma peça colorida. Os relógios de trocar pulseiras também. Isso era moda e agora vi uma propaganda na televisão com o Fiuk”.
A boa notícia da vida moderna, avalia Gugliatto, é que hoje em dia ninguém precisa gastar o salário todo em uma única peça para ficar na moda.  “Antes era para poucos, mas hoje com o investimento das lojas de departamento em estilistas a moda se tornou para todos, sem precisar ter algo de grife ou caro, como antigamente”.
Bem, se experiência vale, ninguém precisa ficar preocupado com filho desesperado por alguma peça de roupa ou acessório. Gastei tudo que tinha em um tênis, mas cresci.

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